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Território como destino turístico: cartografia social (mapeamento dos lugares de importância afetiva, lideranças locais, espaços culturais e de sociabilidade, serviços públicos e comunitários), inventário turístico (conceito) e estratégias para o descobrimento da identidade territorial do destino

Para que você, guia de turismo, possa elaborar roteiros e narrativas que apresentem e manifestem a essência do destino, é preciso, primeiramente, identificar as principais características e os aspectos presentes na localidade. Somente assim é possível entregar um produto turístico autêntico, que reflita a identidade do local. Sendo assim, deve-se entender o destino como um território, que contém em si diversos elementos que devem ser valorizados.

Em relação aos territórios como destinos turísticos, é preciso desprender-se da ideia de territórios apenas na perspectiva espacial. Um território como destino turístico não é abordado somente como a delimitação geográfica de um espaço com atratividade, mas sim como a união de todos os elementos envolvidos em sua construção social, cultural e econômica. O território turístico pode ser entendido como um sistema dinâmico, em que agentes sociais diversos, como comunidade local, prestadores de serviço e viajantes, desempenham papéis fundamentais na construção do destino. Assim, considera-se não apenas as paisagens ou os monumentos, mas também as pessoas, suas histórias, tradições e modos de vida, que formam a identidade cultural. Portanto, ao avaliar a importância dos elementos a serem incluídos em um roteiro turístico, é possível utilizar como ferramenta de mapeamento sua cartografia social.

Cartografia social: mapeamento de importância afetiva e social

A cartografia social é uma ferramenta de mapeamento que vai além dos mapas geográficos convencionais. É um mapeamento participativo realizado em conjunto com as comunidades locais, em que é feito um levantamento dos pontos de memória, interação e relevância afetiva para a comunidade. Diferentemente da cartografia espacial, que foca em traçar as delimitações físicas de um lugar, o mapeamento realizado pela cartografia social dedica-se à valorização do espaço e à sua representação para os moradores locais, apontando as relações sociais existentes naquele espaço e sua significância cultural. Logo, por meio dela, é possível identificar lugares de importância afetiva, espaços culturais e de sociabilidade, serviços públicos e comunitários disponíveis, além de reconhecer as lideranças locais.

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Lugares de importância afetiva

Os territórios turísticos são estruturados com foco no pertencimento e na significância emocional. Lugares de importância afetiva são aqueles que carregam valor simbólico para os moradores e, consequentemente, para os visitantes. Podem ser os mais diversos espaços de vivências compartilhadas, locais de festas populares, eventos tradicionais, praças e monumentos que despertam memórias e identidade cultural. Isso ocorre não apenas pelo valor estético, mas também por sua capacidade de gerar vínculos emocionais. Do ponto de vista turístico, esses espaços são de extrema importância, pois são o ponto de encontro que conecta o viajante à comunidade local.

O método de mapeamento realizado na cartografia social realiza um levantamento dos lugares com importância afetiva, objetivando identificar memórias, sentimentos e histórias dos indivíduos em relação ao território que habitam. Nesse processo, a comunidade e os agentes envolvidos passam a perceber os valores e os significados do espaço além da estrutura física.

Por exemplo, observe as comunidades tradicionais, quilombolas e povos indígenas. Essas comunidades têm uma relação muito afetiva com os espaços, que transcendem sua importância material. Dentro desses territórios, uma simples árvore pode representar um espaço ritualístico, um ponto de encontro onde a comunidade se reúne para debater sobre os problemas existentes ou simplesmente contar histórias. Ainda, uma residência pode ganhar destaque por ser a casa de uma benzedeira que promove curas. Dito isso, torna-se evidente que a construção desse mapeamento só é possível por meio da escuta da comunidade, permitindo que apontem os locais mais relevantes, de maior valor afetivo, que formam a identidade local.

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Comunidade Morro Redondo
Fonte: Brasil (2024)

Fotografia diurna da fachada de uma casa antiga em estilo colonial rústico. Uma mulher sai na porta de turbante, camiseta e saia.

O mapeamento afetivo e social ajuda a compreender a importância da manutenção e da conservação desses territórios, frente aos desafios do desenvolvimento acelerado das cidades. Por exemplo, os frequentes casos em que a especulação imobiliária, muitas vezes, adquire esses espaços de comunidades tradicionais para a construção de grandes empreendimentos, apagando a identidade cultural ali existente. Entre as estratégias de defesa desses territórios está o Decreto nº 4887/2003, que regulamenta o procedimento de identificar, reconhecer, delimitar e demarcar, e a titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas.

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Quilombo da família Silva em Porto Alegre/RS (perdeu parte do território devido à especulação imobiliária)
Fonte: Aguiar; Reinholz (2022)

Fotografia diurna com algumas casas em um terreno, cobertas pela sombra de uma grande árvore. Ao fundo, há um prédio de poucos andares em concreto.

A construção do mapeamento afetivo deve conciliar a participação de moradores e especialistas, reunindo saberes empíricos e técnicos por meio de oficinas, reuniões e debates. Essa ferramenta é mais do que um mapa, ela reforça o pertencimento da comunidade local.

Espaços culturais e de sociabilidade

Espaços de sociabilidade são locais onde as pessoas interagem, espaços de convivência comuns a quem vive na comunidade, em que os moradores constroem laços sociais com aqueles que compartilham o espaço e com o próprio espaço, por meio de trocas culturais e afetivas. Nos destinos turísticos, esses locais podem ser públicos, ao ar livre, onde as pessoas se reúnem para lazer, eventos culturais ou encontros casuais. Pense sobre como os espaços como mercados e feiras são importantes para a troca cultural, permitindo que turistas e visitantes se encontrem, conversem e conheçam produtos locais, ou ainda bares e cafés que apresentam uma relevância cultural única por seu ambiente e culinária tradicional.

Os eventos e as festividades, embora temporários, são igualmente importantes. Neles a cultura local e as tradições ganham destaque, atraindo milhares de visitantes, que podem vivenciar uma imersão na cultura local por meio do evento. Para o turismo, esses espaços desempenham um papel crucial, pois eles incentivam a hospitalidade, propiciam interações autênticas, contribuem para a preservação de tradições e práticas culturais, além de fortalecer a identidade local.

Lideranças locais

Os indivíduos são a essência de uma cidade. Ao viajar, você se depara com locais, atividades e pessoas que em si concentram elevado grau de atratividade. Com o método de mapeamento afetivo, é possível descobrir quem são as pessoas e quais são as suas vivências naquele espaço. Também dentro das comunidades, podem ser percebidos papéis de liderança bem demarcados, pessoas que lutam pelos direitos da comunidade, pela preservação da cultura e, especialmente, pela união dos moradores. Por esse motivo, lideranças locais são atores fundamentais na mediação entre as comunidades e o desenvolvimento turístico. Muitas vezes, atuam como facilitadores do turismo comunitário, promovendo a cultura e instigando a participação ativa da comunidade em seu planejamento e desenvolvimento do destino. Além disso, essas lideranças têm domínio de conhecimento sobre o território, por esse motivo, é comum que exerçam o papel de mediadores entre a comunidade e os visitantes. Isso é extremamente benéfico para turismo, pois propicia ao viajante uma melhor compreensão dos valores e uma experiência autêntica.

Serviços públicos e comunitários

A infraestrutura de serviços públicos e comunitários são de extrema importância para a cidade e seus moradores. Logo, devem ser mensurados na cartografia social. Serviços básicos de saúde, educação e cultura, como os oferecidos em hospitais, escolas, centros comunitários e outros, são componentes importantes para o bem-estar da população local.

Nesse caso, é importante salientar que, para desenvolver um turismo de qualidade, é preciso primeiramente uma cidade boa para seus moradores. Sendo assim, é crucial garantir que o desenvolvimento turístico não sobrecarregue os recursos disponíveis. A integração desses serviços ao planejamento turístico garante um crescimento equilibrado e sustentável.

Inventário turístico

O inventário turístico é uma ferramenta essencial para a gestão de destinos, pois permite identificar e catalogar os recursos turísticos disponíveis em uma determinada localidade, a fim de que se compreenda melhor as potencialidades turísticas do território e seja possível avaliar as áreas que precisam de desenvolvimento. Esse deve ser o primeiro passo para a elaboração de novos roteiros turísticos e melhorar a infraestrutura existente. O inventário é parte de um planejamento cuidadoso, que garante benefícios aos visitantes e à comunidade local, devendo estimar tanto os recursos naturais e culturais quanto a infraestrutura de suporte ao turismo, como meios de hospedagem, restaurantes e centros de informação turística. A construção do inventário pode ser dividida em dois componentes principais: recursos tangíveis e intangíveis.

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Os recursos tangíveis são os equipamentos físicos que compõem a atratividade turística de um destino. Incluem o patrimônio histórico, como monumentos, igrejas históricas e museus, ou seja, o patrimônio construído. Também englobam os atrativos naturais, como praias, montanhas e áreas protegidas. É necessário avaliar a infraestrutura física dos recursos tangíveis, como estradas, serviços de transporte e comunicação, a fim de assegurar que a atividade turística seja viável.

Os recursos intangíveis são os elementos que não podem ser mensurados fisicamente. Referem-se a manifestações culturais, práticas artesanais, saberes, práticas e tradições orais. Esses elementos enriquecem a experiência turística e oferecem uma interação profunda com a cultura local, propiciando vivências autênticas.

Estratégias para descobrimento da identidade territorial

A identidade territorial de um destino turístico envolve a criação de um sentido de lugar, isto é, um espaço que ganha sentido e significado por meio das relações humanas e sociais estabelecidas. O reforço dessa identidade acontece na interação entre o espaço, os indivíduos e os elementos que o compõem.

Observe, por exemplo, um viajante ao escolher um destino turístico, normalmente o faz atraído pela história, cultura, paisagem ou hospitalidade do local. Esses são justamente alguns dos elementos que diferenciam o destino, conferindo-lhe identidade. Por esse motivo, é importante conhecer quais desses elementos estão presentes no território turístico. A seguir, veja cada um deles.

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Para o sucesso das experiências turísticas imersivas, a comunidade deve estar preparada para recepcionar os visitantes. A maneira como a comunidade local recebe e interage com os turistas também define a identidade de um destino. Uma recepção calorosa e acolhedora cria uma memória positiva para o visitante, reforçando a imagem do local como um destino hospitaleiro e receptivo.

Segmentos que promovem a identidade local

Estratégias eficazes são necessárias para conquistar o fortalecimento da identidade, que tem grande valor para a promoção turística. Após descobrir as potencialidades por meio do inventário turístico e do mapeamento afetivo, é determinante desenvolver produtos turísticos focados na valorização dos recursos locais e na inclusão das comunidades. Entre os segmentos que destacam a identidade local estão o turismo de experiência e turismo de base comunitária.

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Encerramento

A abordagem de territórios como destino turístico traz apenas benefícios para o desenvolvimento do turismo, pois promove práticas sustentáveis. Para a compreensão e a gestão desses territórios, a cartografia social e o inventário turístico são métodos essenciais, possibilitando que as comunidades locais participem do processo de desenvolvimento turístico. Por fim, a descoberta da identidade territorial e sua promoção depende de estratégias que valorizem os recursos locais, garantindo que o turismo seja motor para o crescimento econômico, a preservação do patrimônio e o bem-estar social.