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Trabalho e emprego no contexto do turismo: história do trabalho, sua organização, formas e tipos de trabalho na atualidade e tendências para o futuro (empreendedorismo e inovação); extinção dos recursos ambientais, sociais e culturais; divisão sexual do trabalho e etarismo; desvalorização e invisibilidade de formas de trabalho; cargos, funções e escolhas profissionais

O setor de turismo é uma das principais forças da economia global e reflete não apenas a diversidade de destinos e experiências, mas a possibilidade de desenvolvimento e geração de renda para muitas regiões ao redor do mundo. No entanto, esse crescimento vem acompanhado de desafios relacionados à organização do trabalho, à exploração de recursos e a questões sociais e ambientais muito importantes.

O compromisso com a preservação dos recursos culturais e ambientais é fundamental para garantir que o turismo atenda não apenas às expectativas dos visitantes, mas também às necessidades das comunidades locais. Como guia de turismo, é importante a reflexão crítica sobre as práticas turísticas, o mundo do trabalho e o desenvolvimento de soluções inovadoras, que serão essenciais para criar um setor mais responsável e sustentável. Ao debater esses temas, o objetivo é prepará-lo para se tornar um profissional consciente e proativo, capaz de transformar as relações de trabalho e a forma como o turismo é planejado e conduzido.

Neste material, serão explorados os principais aspectos da dinâmica turística contemporânea, abordando as tendências emergentes que moldam o futuro do turismo, como a busca por experiências autênticas, a importância da sustentabilidade e a digitalização de serviços. Serão discutidas também questões fundamentais sobre as estruturas do trabalho no turismo e os desafios de visibilidade e valorização enfrentados por muitas profissões. Também será abordada a extinção dos recursos ambientais, sociais e culturais, destacando o impacto sobre os ecossistemas e as identidades locais.

História e organização do trabalho no turismo

O turismo é uma das atividades econômicas mais antigas do mundo, datando desde os primeiros movimentos de pessoas em busca de lazer, descanso e descobertas culturais. Desde a Antiguidade, viagens realizadas por gregos e romanos, por exemplo, demonstraram um embrião do que viria a ser o setor do turismo um dia. No entanto, foi somente com a Revolução Industrial, no século 19, que o turismo começou a se consolidar como uma indústria global. A urbanização crescente e o aumento do poder aquisitivo de classes médias deram origem ao turismo moderno, que passou a ser um motor econômico relevante em várias partes do mundo (Mees, 2013).

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Thomas Cook
Fonte: Cripps (2019)

Fotografia em preto e branco de Thomas Cook, pioneiro do turismo, sentado em uma cadeira ao lado de uma mesa ornamentada, usando roupas formais. Ele está com uma das mãos apoiadas sobre a mesa e a outra no colo.

Nesse contexto, surge a figura de Thomas Cook, um dos pioneiros do turismo moderno, considerado o responsável pela organização da primeira viagem de excursão, em 1841, quando levou um grupo de pessoas de Leicester a Loughborough, na Inglaterra, em uma viagem de trem. Thomas Cook era pastor batista e percebeu que poderia facilitar a organização de viagens para grupos maiores, inicialmente com fins religiosos, ao negociar diretamente com as companhias de transporte tarifas mais acessíveis ao público, tornando suas viagens mais atrativas. As viagens promovidas por Thomas Cook tiveram um impacto profundo na popularização do turismo. Ele fundou a empresa Thomas Cook & Son, que expandiu suas atividades, com 84 escritórios em diversos países no mundo, oferecendo pacotes de viagens internacionais e criando o conceito de “turismo de massa”. Ele inovou ao integrar transporte, acomodação e guias em seus pacotes, facilitando as viagens para o público em geral, antes acessíveis apenas às elites. Essa estrutura de pacotes e viagens guiadas moldou as bases do turismo moderno, consolidando a noção de turismo como uma indústria global.

De acordo com Barbosa (2005), “o turismo é uma força econômica das mais importantes do mundo. Nele ocorrem fenômenos de consumo, originam-se rendas, criam-se mercados nos quais a oferta e a procura encontram-se”, o que o torna um fator importante no desenvolvimento econômico de muitos destinos turísticos. No entanto, esse crescimento veio acompanhado de desafios relacionados à organização do trabalho no setor.

O trabalho no turismo abrange uma vasta gama de atividades, como hospedagem, transporte, alimentação, entre outros. A organização do trabalho no setor é multifacetada, com a necessidade de coordenação entre diferentes profissionais e áreas, o que demanda uma organização eficiente e colaborativa. Os tipos de trabalho variam, indo desde posições especializadas, como os cargos de gestão em operadoras de turismo ou produtoras de eventos, por exemplo, até trabalhos operacionais, como o atendimento em restaurantes, recepcionistas em hotéis e o trabalho de guias de turismo. Algumas dessas funções podem ser temporárias ou sazonais, especialmente em regiões turísticas que dependem fortemente de períodos específicos do ano para receber visitantes, conforme aponta Soares (2005).

O trabalho sazonal é uma característica marcante no turismo, especialmente em períodos de alta demanda, como feriados e férias escolares. Durante esses momentos, destinos turísticos populares, como praias, cidades históricas e regiões serranas, veem um aumento significativo no fluxo de visitantes, o que leva à necessidade de contratações temporárias. Hotéis, restaurantes, parques temáticos, agências de turismo e outros serviços ampliam suas equipes para atender à demanda, empregando trabalhadores por períodos curtos, sem garantia de permanência após a temporada. Esse tipo de trabalho sazonal é uma oportunidade para muitas pessoas se inserirem no mercado de trabalho, mas também pode ser marcado pela precarização, com contratos de curto prazo, baixos salários e ausência de benefícios trabalhistas, como seguro-desemprego e férias remuneradas.

O setor turístico oferece diversas formas de trabalho, tanto formal quanto informal. No campo formal, encontram-se cargos em empresas de turismo, agências de viagem, companhias aéreas e operadoras de cruzeiros, por exemplo. No entanto, uma parcela significativa da força de trabalho no turismo atua de maneira informal. Isso é especialmente comum em destinos turísticos mais populares, onde condutores locais, vendedores de artesanato e até mesmo motoristas de táxi compõem o mosaico de trabalhadores que, embora fundamentais, permanecem, muitas vezes, à margem do sistema formal de trabalho.

Ao planejar um roteiro e escolher parceiros de negócios e empresas que você trabalhará, é fundamental selecionar aquelas que valorizam o trabalho digno e cumprem a legislação trabalhista. Esse cuidado não apenas garante a qualidade da experiência turística, mas também reforça o compromisso com práticas éticas e responsáveis no setor.

Organizações que aderem ao Pacto Global da ONU, por exemplo, assumem o compromisso de promover “trabalho digno para todos” e “tomar medidas imediatas e eficazes para erradicar o trabalho forçado e acabar com a escravidão moderna”. Ao priorizar parceiros que compartilham esses valores, você contribui para um ambiente de trabalho mais justo e um turismo que respeite os direitos humanos e sociais de todos os envolvidos.

Nesse sentido, a gestão pública e privada exerce papel fundamental para o desenvolvimento sustentável das regiões. A colaboração entre governo e empresas do setor podem criar um ambiente mais estruturado, com políticas públicas que incentivem o turismo responsável, promovam a capacitação profissional e garantam melhores condições de trabalho aos empregados sazonais. Políticas como a regulamentação de contratos temporários, o fortalecimento da fiscalização trabalhista e a promoção de projetos de desenvolvimento local são essenciais para assegurar que o turismo contribua para o crescimento econômico das regiões sem explorar os trabalhadores. Além disso, o investimento em infraestrutura e a promoção de destinos turísticos diversificados podem diluir a demanda ao longo do ano, diminuindo a dependência de temporadas específicas e oferecendo empregos mais estáveis.

Sendo assim, novas soluções para os desafios do turismo podem ser alcançadas, principalmente por meio do empreendedorismo e da inovação. O setor encontra grandes oportunidades em ideias e modelos de negócios que priorizam abordagens criativas, sustentáveis e inclusivas.

Desse modo, serão exploradas as principais tendências do turismo, a fim de compreender como o empreendedorismo e a inovação podem transformar o setor, incentivando alternativas que sejam responsáveis e alinhadas com as demandas da sociedade e do mercado.

Tendências para o setor do turismo (empreendedorismo e inovação)

O turismo é um setor dinâmico, globalizado e impactado por uma série de fatores, como renda, taxa de câmbio, crescimento da economia global, crédito e taxa de juros, entre vários outros. Como guia de turismo, é essencial que você acompanhe as tendências nos cenários mundial, nacional e regional, para entender como esses fatores influenciam o mercado e o seu trabalho profissional. Essa visão permite que você desenvolva práticas inovadoras e melhor se adapte à realidade em constante mudança.

Será que a forma como as pessoas consomem as atividades de turismo hoje é a mesma de 20 anos atrás? Provavelmente, sua resposta foi “não”! E você acertou, muita coisa mudou de lá para cá. Antes, as viagens eram planejadas com grande antecedência, e as agências de turismo físicas desempenhavam um papel essencial na organização das viagens. As pessoas visitavam essas agências para comprar pacotes completos, que incluíam passagens, hospedagem e roteiros, em uma experiência bastante controlada, com pouca flexibilidade além daquilo que já estava programado. Hoje, o cenário é bem diferente. Com o avanço da internet e o surgimento das plataformas on-line, conhecidas como OTAs (on-line travel agencies – agências de viagem on-line), como Decolar e Booking, o consumidor ganhou mais autonomia e poder de decisão. Isso não significa que as pessoas deixaram de comprar viagens em agências físicas, mas sim que seu comportamento tem mudado ao longo do tempo. Agora é possível organizar a viagem conforme as próprias preferências, escolher entre inúmeras opções de voos, hotéis e passeios, além de comparar preços em tempo real. A digitalização transformou o turismo em uma experiência muito mais personalizada e flexível.

As agências on-line mudaram completamente a forma como as pessoas planejam e consomem o turismo. Hoje, o viajante pode acessar informações, fazer reservas e até obter avaliações de outros usuários de forma instantânea. Além disso, a facilidade de pagamento e a possibilidade de pesquisar o destino detalhadamente, inclusive em redes sociais e blogs, faz com que o turista tenha mais controle sobre sua viagem. Plataformas como TripAdvisor permitem que o viajante veja avaliações e dicas de outros viajantes, facilitando decisões sobre hotéis, restaurantes e passeios. Essa mudança tecnológica democratizou o turismo, permitindo que mais pessoas pudessem explorar os destinos, personalizando suas viagens de acordo com seus desejos e necessidades.

Mas a digitalização dos serviços não foi a única mudança no setor. A OMT (Organização Mundial do Turismo) apontou algumas tendências para o turismo ao longo dos próximos anos, veja as principais:

  • Sustentabilidade: a busca por viagens mais sustentáveis, como alojamentos ecológicos e passeios na natureza, estão em alta.
  • Experiências autênticas: os turistas estão interessados em conhecer a história, as tradições e os costumes dos lugares que visitam.
  • Viagens flexíveis: o público mais jovem, os chamados millennials, está interessado em viagens flexíveis, sem roteiro.
  • Viagens em família: as viagens em família ou para celebrar uma data especial estão em alta.
  • Eventos esportivos: a realização de eventos esportivos pode impulsionar o turismo.

É importante salientar que outras tendências foram aceleradas pela pandemia de covid-19, mudando não apenas a maneira como as pessoas viajam, mas também seus motivos e frequência. Durante os períodos de isolamento e restrições de viagem, o turismo tradicional praticamente parou, levando a uma busca por alternativas. Nesse cenário, o trabalho híbrido em muitas empresas, que combina atividades presenciais e remotas, passou a ser adotado amplamente, o que impactou diretamente o turismo. Com a flexibilidade de trabalhar de qualquer lugar, muitos trabalhadores passaram a unir trabalho e lazer em destinos turísticos, uma tendência que ficou conhecida como workcation (em tradução livre, uma mistura de trabalho e férias). Essa prática permite que o viajante trabalhe de um lugar diferente, aproveitando os momentos livres para explorar o destino, possibilitando que as pessoas viajem mais vezes ao longo do ano.

Outra tendência que ganhou força durante a pandemia foi o staycation, que consiste em tirar férias sem sair de casa ou explorando destinos próximos. Devido às restrições de deslocamento e à necessidade de evitar grandes aglomerações, muitas pessoas optaram por viajar dentro de suas próprias cidades ou regiões, valorizando destinos domésticos e experiências locais. Essa tendência ajudou a fortalecer o turismo local e regional e abriu uma nova perspectiva para o consumo de viagens: a descoberta do que está ao redor, muitas vezes, ignorado pelo desejo por destinos internacionais. Com isso, o staycation virou uma alternativa viável e econômica, que tende a continuar crescendo mesmo após o fim da pandemia. Se o seu trabalho envolve turismo receptivo, uma boa alternativa é focar não apenas nos viajantes, mas também nos moradores da sua cidade e região.

Além disso, a pandemia também reforçou a tendência do turismo de experiência, em que o foco não é apenas visitar novos lugares, mas vivenciar atividades imersivas que conectem o viajante à cultura, à história e às tradições locais. Em vez de simplesmente tirar fotos de pontos turísticos, os viajantes passaram a procurar experiências autênticas e personalizadas, como cozinhar com chefs locais, participar de festivais culturais, fazer trilhas em locais pouco conhecidos ou visitar comunidades tradicionais. Esse tipo de turismo oferece uma conexão mais profunda com o destino e se alinha à busca por autenticidade e sustentabilidade que muitos turistas têm priorizado. Quais são as experiências únicas da sua região? Pensar em como incorporá-las ao seu trabalho pode se tornar o seu grande diferencial no mercado.

Outras formas de digitalização de serviços no turismo também se intensificaram durante e após a pandemia. Com a necessidade de minimizar o contato físico, o uso de tecnologias sem toque, como check-ins on-line e chaves digitais para quartos de hotel, tornou-se comum. O ChatGPT e outras inovações de inteligência artificial começaram a ser integradas em plataformas de turismo, oferecendo aos viajantes assistentes virtuais que ajudam a planejar viagens, fornecem recomendações personalizadas e até respondem dúvidas em tempo real. Você já pesquisou sobre o Google Travel? Fica o convite para conhecer mais a plataforma.

Essa automação não apenas melhora a experiência do usuário, mas também facilita o trabalho de agências e empresas de turismo, permitindo um atendimento mais rápido e eficiente. Você sabia que os viajantes podem usar o ChatGPT para traduzir cardápios e pedir detalhes sobre os pratos? Ou até apontar a câmera do celular para um painel informativo de um atrativo turístico e transformar aquelas informações em um audioguia? E mais, com a localização no mapa, eles podem pedir sugestões de restaurantes, bares e outros serviços próximos de interesse. As possibilidades são inúmeras, e é essencial considerar como essas novas tecnologias podem ser incorporadas para aprimorar seu trabalho de guia de turismo.

Outra grande influência no setor de turismo atual são as redes sociais e os influenciadores digitais, que têm se tornado protagonistas na escolha de destinos e na experiência de viagem. Plataformas como Instagram e TikTok são utilizadas por influenciadores para divulgar destinos e experiências, muitas vezes, moldando as preferências dos viajantes. Fotos de lugares paradisíacos, vídeos de aventuras e recomendações pessoais são compartilhados em massa, criando tendências e despertando o interesse de milhares de pessoas. Isso criou uma dinâmica em que o viajante busca experiências que possam ser compartilhadas on-line, o que afeta diretamente a maneira como destinos e empresas de turismo se promovem. Há alguns anos, filmes e novelas despertavam essa curiosidade e o desejo de conhecer os locais onde eram filmados. Hoje, as redes sociais exercem grande influência na decisão de viagem de muitos turistas. Considere como você pode usar essas plataformas para aprimorar seu trabalho.

Plataformas de economia compartilhada, como Airbnb e BlaBlaCar, também têm se destacado no setor. O Airbnb, por exemplo, revolucionou o mercado de hospedagem, oferecendo uma alternativa mais pessoal e, muitas vezes, mais acessível que os hotéis tradicionais. Além disso, os anfitriões do Airbnb podem proporcionar experiências culturais e locais que hotéis não podem oferecer, tornando-se parte do atrativo turístico. Da mesma forma, o BlaBlaCar, plataforma de caronas, tem promovido a ideia de viagens compartilhadas, ofertando não apenas economia, mas também uma experiência social que agrega valor durante o deslocamento de viagem.

Com as inovações tecnológicas e as mudanças no perfil dos consumidores, os profissionais guias de turismo precisam dominar tanto o conhecimento técnico sobre os destinos quanto as habilidades digitais, utilizando outras plataformas, além das redes sociais, para promover experiências personalizadas. Com o aumento da diversidade entre os turistas e o foco em experiências personalizadas, é crucial que você saiba lidar com diferentes expectativas e preferências, adaptando os roteiros e oferecendo um atendimento personalizado que vá além do tradicional. Adaptar-se a diferentes perfis de turistas, oferecendo atendimento empático e comunicação intercultural, tornou-se essencial. Competências como flexibilidade, respeito às práticas sustentáveis e valorização das culturas locais também ganham destaque, já que o turismo sustentável está cada vez mais valorizado entre os viajantes.

Por fim, você deve estar em constante atualização, acompanhando as novas tendências e inovações tecnológicas que surgem no setor. O uso de realidade aumentada para mostrar reconstruções históricas de lugares ou a criação de tours virtuais para públicos que não podem viajar fisicamente são exemplos de como a tecnologia está transformando o papel da profissão de guia de turismo. A habilidade de adaptar-se a um mundo em rápida mudança, com novos métodos de consumo de informações e de interação com o público, será fundamental para o seu sucesso profissional no setor. No entanto, alguns aspectos importantes das relações entre visitantes, moradores locais e os recursos dos destinos precisam ser levados em consideração nesse processo. Inclusive, esse será o tema do próximo tópico.

Extinção dos Recursos Ambientais, Sociais e Culturais

O turismo é uma atividade econômica essencial para muitas regiões, gerando empregos e renda, fortalecendo o empreendedorismo local e valorizando a cultura e as tradições das comunidades. Porém, nem sempre os impactos dessa atividade são positivos. Os recursos ambientais, sociais e culturais dão forma às experiências, identidades e atrativos que tornam as regiões únicas e atraentes. Esses recursos são a base para práticas de turismo sustentável, que promovem o respeito pelo meio ambiente, pelas comunidades locais e pelas tradições culturais.

Preservar esses recursos é essencial para que o turismo continue a gerar benefícios, tanto para as populações locais quanto para os próprios turistas. No entanto, desafios como a degradação ambiental, a transformação de práticas sociais e a perda de manifestações culturais exigem atenção e esforço dos profissionais do setor. Diante disso, é essencial valorizar e apoiar empreendimentos que operam de forma social e ambientalmente responsável. É igualmente importante que os próprios visitantes assumam um papel consciente, contribuindo para práticas que respeitem e preservem o meio ambiente e as comunidades locais.

O turismo mal planejado é frequentemente responsável pela degradação de ecossistemas frágeis, poluição de recursos hídricos e sobrecarga de infraestrutura local. Além da preocupante tendência de descaracterização das culturas locais, muitas vezes, transformadas em produtos turísticos sem o devido respeito à sua autenticidade.

Como exemplo de degradação ambiental, há o arquipélago de Fernando de Noronha/PB, que atrai turistas do mundo inteiro por suas praias paradisíacas e biodiversidade marinha. Nos últimos anos, o aumento no número de visitantes tem gerado uma pressão insustentável sobre o ecossistema local. De acordo com relatórios do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o fluxo intenso de turistas tem afetado a vida marinha e contribuído para a poluição das águas e das trilhas. Além disso, a infraestrutura da ilha não está preparada para lidar com esse volume de pessoas, o que agrava o problema.

Na América do Sul, Machu Picchu, no Peru, também enfrenta desafios semelhantes. A cidade inca, tombada como Patrimônio Mundial da Humanidade, pela Unesco, sofre com a superlotação e os impactos do turismo descontrolado. A erosão do solo, o desgaste das trilhas e a pressão sobre os sistemas de transporte e saneamento estão ameaçando a preservação do sítio arqueológico. O governo peruano já adotou medidas como a limitação diária de turistas para tentar mitigar esses efeitos, mas a crescente demanda por visitar o local continua a ser um desafio. Esse caso ilustra como o turismo, quando mal planejado, pode acabar ameaçando o próprio patrimônio que tem o dever de valorizar e preservar.

Além disso, o turismo de massa, que concentra grande contingente de pessoas no mesmo local, também pode provocar uma significativa perda da identidade cultural local. A massificação do turismo pode tornar as experiências turísticas mais homogêneas, fazendo com que tradições culturais e costumes regionais sejam adaptados para atender às expectativas dos visitantes. Isso pode levar a uma perda da autenticidade e do valor cultural original, transformando elementos únicos em produtos padronizados.

Quantas vezes, durante suas viagens, você se deparou com bares temáticos quase idênticos ou que não necessariamente estavam relacionados à cultura local do destino? Ou até mesmo os souvenirs industrializados e padronizados, como imãs de geladeira e canecas, que só se diferenciam pelo nome do destino turístico? Esse fenômeno reflete uma perda crescente da autenticidade dos destinos turísticos, em que as tradições e as singularidades locais são substituídas por uma oferta turística massificada e genérica. É preciso cuidado por parte dos poderes públicos e privados que, ao buscarem agradar a um público global, acabam transformando destinos únicos em experiências repetitivas, diluindo a identidade cultural local e fazendo com que, independentemente de onde o viajante esteja, tudo pareça um pouco igual. Esses aspectos também podem impactar negativamente a cultura e a economia local, especialmente em regiões onde o desenvolvimento turístico é controlado por grandes empresas de fora da comunidade.

No caso de praias brasileiras muito procuradas, como Jericoacoara, no Ceará, a chegada de grandes redes hoteleiras e empresas de turismo internacional levou ao aumento dos preços e à concentração de renda nas mãos de uma minoria, impactando a população local, que, muitas vezes, encontra apenas oportunidades para atividades de menor remuneração. Dessa forma, a população nativa enfrenta o aumento do custo de vida, a especulação imobiliária e a perda de suas tradições culturais em nome de atender às demandas de uma grande quantidade de visitantes. Essa mudança afasta a vivência autêntica dos moradores, e a cultura local é explorada comercialmente, enquanto a comunidade perde o controle sobre seus próprios recursos e modos de vida. Segundo Nogueira:

Ao passo em que cresce a economia de Jijoca de Jericoacoara através dos investimentos no turismo, há uma concentração de renda nas mãos de poucas pessoas. [...] Portanto, é desnecessário dizer que os moradores nativos são os trabalhadores precarizados, que ocupam postos de trabalho mais básicos e que exigem pouca instrução, ficando acentuado o real lucro com os empregadores do setor hoteleiro, os donos dos bares e restaurantes e os proprietários das agências de turismo, que em maioria são pessoas que vieram de outros lugares, principalmente do exterior do país (Nogueira, 2016).

Nesse sentido, é possível perceber que, em muitos casos, as políticas públicas de desenvolvimento do turismo não conseguem acompanhar o crescimento das atividades do setor nem consideram seus efeitos a longo prazo. Medidas como a limitação do número de visitantes, o incentivo ao turismo de menor impacto e o fortalecimento das comunidades locais são essenciais para garantir que o turismo se torne uma ferramenta de desenvolvimento.

O caminho para um turismo sustentável passa por práticas de gestão responsáveis, tanto por parte dos operadores turísticos quanto dos próprios turistas, que devem se conscientizar sobre os impactos de suas escolhas. Em países como o Brasil, onde há uma riqueza de destinos naturais e culturais que podem ser explorados de forma mais equilibrada e sustentável, é possível envolver a população local na gestão da atividade turística, garantindo benefícios econômicos e, ao mesmo tempo, preservando a cultura e o meio ambiente.

Isso leva ao próximo tema, que trata da diversidade nas relações de trabalho e renda no setor do turismo.

Divisão sexual do trabalho e etarismo no setor turístico

A força de trabalho no turismo é marcada por uma ampla variedade de perfis, especialmente em termos de gênero e faixa etária, o que traz grande valor ao setor. A diversidade de gênero fortalece o turismo ao incorporar perspectivas e abordagens variadas, enriquecendo o atendimento ao público e promovendo uma visão mais inclusiva e acolhedora. Já a mistura de diferentes faixas etárias proporciona uma combinação entre experiência e inovação, em que profissionais mais experientes compartilham seu conhecimento acumulado, enquanto os mais jovens trazem frescor, novas ideias e habilidades tecnológicas. Essa heterogeneidade contribui para um ambiente dinâmico e adaptável, capaz de atender às necessidades de um público igualmente diverso e exigente, além de permitir uma troca constante de experiências e práticas que beneficiam o setor como um todo.

No entanto, assim como em outros setores da economia, o trabalho no turismo também reflete desigualdades estruturais como os aspectos de gênero e faixa etária. As mulheres, por exemplo, representam uma parte expressiva da força de trabalho no turismo. Segundo Minasi (2022), elas representam 49% da força de trabalho no turismo, especialmente em funções ligadas ao setor de hospedagem (57%), agenciamento de viagens (57%) e serviços de alimentação (53%).

No turismo, assim como em diversas áreas da sociedade, essa divisão sexual do trabalho se manifesta tanto na distribuição de funções quanto nas condições de trabalho oferecidas para homens e mulheres. Um exemplo comum é a predominância de mulheres em cargos ligados ao atendimento ao cliente, como recepcionistas, camareiras e operadoras de caixa, enquanto os homens são frequentemente encontrados em funções de liderança, como gerentes de hotéis, ou em posições de trabalho físico, como motoristas e carregadores. Essa divisão, segundo Minasi (2022), não apenas limita as oportunidades profissionais das mulheres, mas também perpetua estereótipos de gênero sobre quais tipos de trabalho são adequados para cada sexo.

De acordo com os dados do Cadastur, as mulheres são ligeira maioria entre as guias de turismo (51%). As mulheres também são maioria entre os servidores do Ministério do Turismo (59%). A participação feminina no amplo conjunto de empresas de turismo varia substancialmente por ocupação específica. Consideradas as 10 ocupações mais frequentes nas empresas das ACTs, no extremo inferior, as mulheres representam apenas 1% dos motoristas de ônibus rodoviários. Por outro lado, 91% das camareiras são mulheres. As mulheres são maioria em 7 das 10 ocupações mais numerosas nas ACTs [...] (Minasi, 2022).

Ainda segundo a autora, esse tipo de raciocínio perpetua estereótipos que veem o homem como mais forte e mais capaz de assumir papéis de liderança e responsabilidade, enquanto às mulheres são delegadas funções associadas ao cuidado e ao acolhimento. Nesse sentido, para tornar o setor do turismo mais inclusivo para as mulheres, especialmente na profissão de guia de turismo, é essencial promover políticas que assegurem a igualdade de oportunidades e a valorização profissional. Uma das medidas mais eficazes é incentivar a participação feminina em cursos de capacitação e programas de liderança, preparando-as para assumir posições de destaque e maior responsabilidade.

Outro ponto importante é fortalecer o apoio por meio de redes e associações de guias de turismo que promovam discussões sobre as necessidades e os desafios enfrentados por mulheres no setor, criando um espaço de apoio e visibilidade. Garantir condições de trabalho justas e seguras e incentivar o combate a estereótipos que limitam a atuação feminina em determinados tipos de turismo é fundamental. Campanhas de conscientização e sensibilização junto às empresas e aos próprios viajantes ajudam a criar uma cultura de respeito e equidade, promovendo um ambiente mais inclusivo e acolhedor para as mulheres no turismo.

Além disso, o etarismo, também conhecido como “preconceito com base na idade”, é evidente em diversos setores da economia, como no comércio de bens e serviços, com muitos empregadores preferindo contratar trabalhadores mais jovens para funções que exigem contato direto com o público. A justificativa comum para essa preferência, de acordo com Corrêa (2023), é a crença de que os jovens são mais enérgicos, com mais capacidade de adaptação às novas tecnologias e uma aparência mais alinhada com o perfil desejado para o atendimento ao cliente. No entanto, essa visão desconsidera a experiência e o conhecimento acumulado por trabalhadores mais experientes, que podem trazer uma rica bagagem cultural e profissional para o setor. Muitos idosos têm vasta experiência de vida e conhecimento cultural que podem ser valiosos no trabalho como guias, permitindo-lhes atuar em roteiros especializados, como turismo histórico, religioso ou ecológico. Diversas empresas estão atentas a esses fatores e têm implementado processos mais inclusivos em seus quadros de funcionários, criando oportunidades para profissionais de perfis variados.

Por outro lado, o etarismo também afeta os mais jovens, especialmente aqueles que buscam sua primeira oportunidade de emprego no turismo. Para muitas posições de entrada, as empresas exigem experiência prévia, o que cria um paradoxo: os jovens precisam de experiência para serem contratados, porém não conseguem adquiri-la por falta de oportunidades no mercado. Essa discriminação inversa afeta a inclusão de novos talentos no mercado de trabalho e impede a renovação saudável do setor, que se beneficiaria de uma força de trabalho diversa em termos de idade, com profissionais trazendo diferentes perspectivas e habilidades. Você perceberá, ao longo de sua vida profissional, que algumas empresas exigirão de você experiência no setor, enquanto outras pedirão profissionais sem experiência, para que possam ser moldados de acordo com as políticas da empresa. Isso é comum em outros setores da economia, e não uma exclusividade do turismo. Nesse sentido, é fundamental manter-se atualizado em temas ligados ao seu nicho de atuação, destacar seus diferenciais como profissional, bem como suas habilidades e conhecimentos, além de construir uma rede de contatos estratégica no setor. Seus colegas de curso, por exemplo, são uma ótima base para essa rede, já que o ensino a distância permite acesso a uma rede nacional, conectando você a profissionais de diversas regiões do Brasil.

No contexto do turismo, que é um setor altamente dinâmico e multicultural, a diversidade etária e de gênero pode enriquecer o atendimento e as experiências oferecidas aos turistas. Empresas que valorizam a diversidade reconhecem a importância da integração de diferentes perfis e tendem a ser mais inovadoras e adaptáveis. Para combater essa divisão de sexo entre homens e mulheres, é fundamental que as agências de turismo adotem práticas de contratação mais inclusivas e livres de preconceito. Garantir igualdade de oportunidades para todos, independentemente de gênero ou orientação, é essencial para construir um setor mais justo e inclusivo, que acolha também a população LGBTQIA+. Além disso, a implementação de programas de inclusão etária é fundamental para construir um ambiente de trabalho equilibrado. A valorização da experiência de diferentes tipos de público pode trazer benefícios tanto para as empresas quanto para os próprios turistas, que poderão usufruir de um serviço mais completo e qualificado. A seguir, confira um bate-papo inspirador sobre diversidade de gênero e etarismo no setor de turismo.

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Encerramento

Neste material, você pôde compreender que a promoção de um turismo sustentável e responsável é fundamental para garantir que as comunidades locais possam se beneficiar economicamente, sem sacrificar suas tradições e modos de vida. A análise crítica das estruturas de trabalho no setor do turismo, especialmente aquelas relacionadas à gênero e faixa etária, destacam a necessidade de políticas inclusivas que valorizem a diversidade. É essencial que as agências de turismo e as empresas do setor reconsiderem suas abordagens para garantir que todos tenham acesso a oportunidades iguais e que a riqueza cultural seja preservada.

Você já pensou em como poderia ajudar a regulamentar e fortalecer o setor turístico na sua região? Como guia de turismo, seu papel pode ir além de atividades diárias, como a participação em sindicatos de guias de turismo ou em conselhos municipais de turismo, que oferecem a oportunidade de influenciar decisões estratégicas na sua região. Essas organizações ajudam a valorizar a categoria, defender os direitos trabalhistas e propor regulamentações que beneficiem tanto os profissionais quanto a comunidade local. Ao participar dessas entidades, você pode também contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável da sua região, trazendo discussões sobre preservação ambiental, inclusão social e valorização da cultura local. Além disso, seu envolvimento nessas instâncias é uma maneira de aprimorar a visibilidade do turismo como atividade profissional séria, incentivando práticas éticas e responsáveis, que impactam positivamente toda a cadeia turística.

A adaptação às novas demandas dos viajantes combinada com a valorização da experiência e da cultura local pode transformar a forma como o turismo é percebido e praticado. A capacidade de inovar e integrar práticas sustentáveis será crucial para o futuro do turismo, promovendo um setor que respeite e valorize tanto os visitantes quanto as comunidades que os acolhem.